Confiança e propósito serão os principais fatores de compra pós-COVID-19, diz a indústria da moda
Reprodução: Just Style.com
Por Hannah Abdulla
Um novo relatório alertou que as empresas que não demonstrarem transparência e práticas sustentáveis em suas operações de negócios terão dificuldade em conquistar a confiança do consumidor em um mundo pós-COVID-19.
O relatório ‘Tecendo um futuro melhor: reconstruindo o setor de moda mais sustentável após o COVID-19’ (‘Weaving a Better Future: Rebuilding a More Sustainable Fashion Industry After COVID- 19’) do Boston Consulting Group (BCG), Sustainable Apparel Coalition (SAC) e a empresa de tecnologia Higg Co, é um documento de 12 páginas descrevendo como o setor pode se reconstruir de uma maneira que eleve o papel dos compromissos sociais e ambientais nas estratégias de resiliência em prospecção de negócios.
Ele mostra uma imagem sombria do que a indústria da moda enfrenta no mundo pós-crise, observando os desafios sem precedentes que surgiram com ela, incluindo que a moda e o luxo juntos são os mais impactados negativamente entre todos os bens e serviços de consumo, depois das viagens e do turismo. De março a abril, as vendas diminuíram de 60 a 70% na indústria mundial de moda e de luxo – com o tráfego de pedestres nas lojas de varejo e recreação diminuindo 44% nos EUA, 52% na Alemanha, 78% na Índia e 59% no Brasil.
Falando ainda na cadeia de suprimentos global, uma pesquisa em mais de 500 instalações industriais em todas as principais regiões de produção, conduzida pela SAC e pela Higg Co em abril, mostra que 86% de todas as instalações foram impactadas por pedidos cancelados ou suspensos. Como consequência direta, 40% agora estão com enormes dificuldades com a folha de pagamento de salários dos funcionários, levando à demissões e fechamento de fábricas.
No entanto, o relatório também adota uma postura mais otimista sobre as possibilidades existentes para integrar os esforços de sustentabilidade ao núcleo de estratégia de negócios à medida que a indústria se reconstrói após a pandemia, sugerindo que aqueles que mantêm compromissos com os parceiros da cadeia de suprimentos, que proativamente mantenham um diálogo aberto e colaborem em soluções, se beneficiarão de uma confiança mais profunda dos consumidores e parceiros dessa cadeia toda.
O relatório observa que varejistas e marcas que estão integrando seus esforços de sustentabilidade mais profundamente nos negócios, e não se afastando deles, estão prontos para sair da crise em uma posição mais forte dentro do mercado.
O relatório oferece quatro ações que devem ser tomadas para evitar recaídas no progresso e para se preparar ativamente num setor em transformação:
– Proteja os recursos para sobreviver à crise econômica: As empresas de moda devem proteger os colaboradores, funcionários, seu capital, parcerias em sua cadeia, canais e a confiança e o apoio de seus clientes. Esse momento é uma oportunidade para remover complexidades e custos desnecessários, a fim de se preparar para o reinvestimento.
– Resolva desafios imediatos de inventário em parceria com fornecedores: Os líderes reconhecerão a importância do diálogo aberto e da parceria construtiva em toda a cadeia de produção, a fim de encontrar soluções compartilhadas para proteger o sustento do trabalhador e manter a sua confiança. O cancelamento de pedidos concluídos será uma medida de último recurso, enquanto o cancelamento sem consulta ou colaboração será uma prática inaceitável.
– Integrar a sustentabilidade dentro das estratégias de recuperação de negócios: A sustentabilidade será um imperativo para empresas sólidas após a crise. Os líderes tornarão a sustentabilidade um ponto central para a tomada de decisões pós-pandemia, enquanto as empresas mais atrasadas verão a sustentabilidade como um esforço para retomar quando for mais conveniente.
– Acelerar a transparência enquanto aumenta as ambições de sustentabilidade: As empresas devem aproveitar a digitalização, modelos de negócios inovadores e soluções de ponta- com a transparência desempenhando o papel central – para avaliar e demonstrar um impacto ambiental e social positivo para os stakeholders.
Sanjeev Bahl, fundador e CEO da Saitex, um fabricante sustentável de jeans, diz: “A pandemia nos obrigou a dar um passo atrás e redefinir nossas prioridades. Uma questão importante é que um novo modelo de negócios transparente, que mostre práticas sustentáveis comprovadas, terá uma vantagem sobre outros modelos de negócios tradicionais “.
Javier Seara, diretor administrativo e parceiro do BCG, acrescenta: “Este é o momento da verdade para os integrantes da indústria da moda. As empresas precisarão mudar e já estão mudando seus negócios (todos os dias) para se adaptarem à nova realidade. A incorporação incansável de práticas de sustentabilidade nessas mudanças será o fator crítico que separará os vencedores dos dispensáveis “.
A Higg Co é uma empresa de tecnologia criada no SAC em 2019, que hospeda ferramentas de medição de sustentabilidade, permitindo que as empresas integrem dados mensuráveis diretamente em seus sistemas internos. Isso, por sua vez, possibilita melhorar as decisões de sustentabilidade em toda a empresa e apresenta uma oportunidade ainda maior de unificar a medição em todo o setor.
“Essa crise global em toda a indústria da moda demonstrou a necessidade crítica de dados da cadeia de produção para permitir a tomada de decisões e evitar consequências posteriores”, diz Jason Kibbey, CEO da Higg Co. “Os fabricantes que investiram em instalações e processos sustentáveis estão procurando novos modelos para se beneficiar desses investimentos e novas maneiras de se envolver com seus clientes e fornecedores primordiais em sustentabilidade. A moda precisa da digitalização para acelerar a sustentabilidade e a transparência, assim como acelerou todas as outras áreas dos negócios “.
Embora o futuro permaneça um grande ponto de interrogação, o relatório observa que varejistas e marcas que estão integrando seus esforços de sustentabilidade mais profundamente nos negócios, e não se afastando deles, estão prontos para sair da crise em uma posição mais forte dentro do mercado. O consumidor pós-COVID fará compras em parte com base na confiança e no propósito, e as empresas serão julgadas não só sobre como agiram durante a crise mas como como priorizam a sustentabilidade e a transparência depois que a tempestade passar.
Amina Razvi, diretora executiva do SAC, diz: “Esta crise está nos mostrando que tudo é possível quando você tem indivíduos, comunidades, empresas e governos trabalhando lado a lado para resolver uma ameaça global. Embora não seja assim como queríamos ter consciência disso, agora sabemos que é possível uma ação coletiva em escala global. A mudança climática é o próximo grande desafio que precisamos enfrentar juntos, e essa pandemia está nos forçando a reconhecer que a saúde econômica, ambiental e humana está profundamente interconectada, e soluções significativas somente serão possíveis se a integração, a colaboração e a transparência estiverem na vanguarda de um novo paradigma da indústria”.