Fundadores da Lapima falam sobre design, artesanato e em trabalhar juntos como um casal
A marca Lapima conta a concepção da marca e também o processo de desenvolvimento da coleção Mamangá, inspirada no saco do Mamanguá, em Paraty, no Rio de Janeiro, em entrevista para o site da revista Forbes americana. Confira abaixo a matéria traduzida.
Por Kristen Shirley
Reprodução: Forbes.com
Com suas formas precisas em cores fortes, os elegantes óculos de sol da Lapima, e agora os óculos de grau, são instantaneamente reconhecíveis. A empresa foi fundada pelo casal brasileiro Gisela e Gustavo Assis, que queriam homenagear os artesãos brasileiros e o estilo inimitável de suas coleções. Eles conversam com a Forbes.com sobre como fundaram sua marca, trabalhando juntos como um casal, o que vem por aí.
O que os inspirou a começar a Lapima?
Nossa inspiração veio de querer criar produtos perenes que pudessem estar na moda, no sentido de agregar estilo a quem os usa, e também como escultura, que brincasse com a luz, beleza e leveza.
Como vocês lançaram a Lapima e quais os desafios que tiveram que vencer?
Lançamos a Lapima em 2016 em São Paulo nas lojas de amigos e vendendo peças para nossos parentes para garantir que estávamos recebendo o melhor e mais honesto feedback possível. Nosso maior desafio foi descobrir fatores importantes como o ateliê, a produção, desenvolver os métodos que queríamos usar e encontrar nossa própria maneira única de fazer óculos.
Este é o primeiro empreendimento comercial que vocês dois assumiram como casal?
Não, nos conhecemos desde 2002, depois nos casamos em 2006 e, em 2010, começamos a trabalhar juntos. Comprei a parte do negócio de varejo de moda de seu ex-sócio de negócios que eles haviam desenvolvido em 2002. Com esse negócio, pudemos conhecer nossos “outros lados” e funcionou muito bem! Vendemos o negócio em 2013 e começamos a sonhar com uma marca própria.
Que conselho vocês dariam a outros casais / parceiros de negócios sobre como conciliar trabalho e vida pessoal?
Para nós, foi um passo natural que fez sentido para nossa vida juntos. Nós nos conhecemos muito jovens e sempre fomos a motivação positiva um do outro para crescimento pessoal. Depois de oito anos juntos e dois filhos, era muito fácil se tornar um parceiro de negócios. Em 2013, vendemos as demais lojas que tínhamos juntos e começamos a desenhar, planejar e sonhar com a Lapima, exatamente no mesmo ano em que tivemos nosso terceiro filho! O conselho que podemos oferecer aos casais que procuram desenvolver um negócio juntos é nunca cruzar a linha do respeito e dar espaço um ao outro. Sempre ofereça admiração e paciência ao seu parceiro. Esse apoio será fundamental quando chegarem os momentos difíceis, e cada pessoa precisa se esforçar e dar o seu melhor para seguir em frente e alcançar seus objetivos.
O que inspirou a visão estética e foco na habilidade manual?
A expressão artística do nosso país é a nossa inspiração. O Brasil não é apenas rico por natureza, nós temos incríveis arquitetos, designers de móveis, pintores, escultores, dançarinos e músicos.
A qualidade do trabalho artesanal da nossa marca era inegociável: desde o início garantimos que estivéssemos presentes durante a produção. Supervisionamos o desenvolvimento do produto e ajudamos em todas as etapas do processo. É tão lindo e gratificante quando vemos um cliente ou parceiro de varejo usando nossas peças, pois dá para perceber que eles sentem a qualidade de um produto feito à mão. Você pode ver isso em seus olhos.
Vocês podem resumir o processo de 28 etapas em que os artesãos fazem seus óculos manualmente?
Começa do zero, com o esboço do Gustavo em lápis e papel até ficarmos empolgados com um design. Em seguida, passamos o esboço pelo processo de modelagem 3D, que passa por vários estágios até que finalmente sentimos que o design está pronto para ir para a produção. Uma vez dentro do ateliê, iniciamos a escultura da placa de acetato / chifre com base no desenho aprovado. Esta é a única etapa em que uma máquina é usada durante o desenvolvimento dos óculos. Em seguida, passamos para as outras etapas do processo, como o polimento manual (pode levar até 30 minutos por par) e a montagem de cada estilo, aperfeiçoada para atingir o encaixe perfeito. Todas as etapas são super importantes para o resultado final do nosso produto.
Como a pandemia de COVID-19 afetou seus negócios e que conselho vocês dariam aos proprietários de empresas que estão passando por dificuldades nestes tempos difíceis?
Estávamos saindo do nosso melhor desempenho no mercado na Paris Fashion Week em fevereiro e enquanto estávamos lá, os rumores e o medo da Covid-19 começaram a aparecer e crescer. Voltamos ao Brasil com um grande número de pedidos e em 15 dias esses pedidos começaram a ser cancelados. Esse, eu diria, foi o momento mais importante para Lapima. Tivemos que sentar com a equipe e tomar decisões difíceis. Como uma equipe, decidimos seguir em frente com a produção de cada estilo que foi pedido e vendido, acreditando que a situação iria melhorar em breve. Como os óculos são considerados um produto relacionado à saúde, pudemos continuar trabalhando tomando todas as precauções necessárias e cuidando de todos os nossos funcionários. Felizmente, nunca fomos forçados a fechar nossas portas e, em troca, isso nos deu -e à nossa equipe- um grande senso de unidade, comunidade e força. Em maio, os clientes europeus que haviam feito pedidos em Paris em fevereiro, começaram a nos enviar e-mails perguntando sobre seus pedidos e, devido à nossa decisão de continuar a fabricar, tínhamos peças prontas para embarcar!
Também decidimos manter a linha do tempo original para a expansão de nossa categoria em óptica. Estávamos trabalhando nisso no ano passado com nove novos estilos em sete ou oito cores diferentes. Apesar das dificuldades que este ano trouxe, avançamos para que pudéssemos mostrá-lo aos nossos varejistas até setembro. Acreditamos que a chave para sobreviver a esses momentos imprevisíveis foi o relacionamento próximo que mantemos com nossos clientes e parceiros de varejo. Ajudou a todos nós a enfrentar e compreender melhor a situação. Nunca perdemos a fé, e isso nos ajudou a continuar criando e lançando lindos óculos.
O que torna sua visão especial e como isso se traduz em seus óculos?
Acreditamos na beleza, em fazer as coisas bem e na paciência. É por isso que os produtos artesanais são tão importantes para nós. Nossa visão é especial porque não temos formação em óculos e trazemos uma nova maneira de ver o funcionamento dessa categoria em particular. Apresentamos uma nova proposta sobre como os óculos devem ser.
Qual a inspiração para o nome Lapima e a empresa tem uma mensagem específica que vocês desejam compartilhar com o mundo?
Lapima significa “lá em cima” em português, que significa “up there” em inglês. Nosso filho mais velho, Guga, hoje com treze anos, costumava pronunciar “lá em cima” como Lapima quando tinha dois anos. Amamos a palavra e nunca a esquecemos. Nos dois anos anteriores ao lançamento oficial, não conseguimos pensar em um nome melhor. Lapima funciona porque é facilmente pronunciado em muitas línguas ao redor do mundo e o significado para nós foi e continua sendo muito especial.
O que vocês imaginam que a Lapima (ou um futuro empreendimento) pareça daqui a 10 anos?
Nossa visão é estar entre as três melhores marcas de óculos de luxo do mercado independente até 2030.
Qual foi o momento mais inacreditável desde que a Lapima começou?
Quando tivemos nossa primeira produção interna sendo enviada para a Barneys New York, a Lapima tinha apenas dois anos e fomos convidados para uma apresentação de lançamento da marca na loja! Inesquecível!!
* Esta entrevista foi editada e condensada para maior clareza.